27 Somente provocando medo é que se consegue conter a mulher dentrodos limites da razão. No matrimônio, entretanto, é de fato necessário contê-la dentro de limites porque temos de partilhar com ela o que possuímos demelhor, e, assim, perde-se em felicidade amorosa o que em autoridade seganha. Daí explica-se, por exemplo, por que a metade dos crimes capitaisna Inglaterra são cometidos entre marido e mulher.
28 A natureza fez mais do que o necessário para isolar o meu coração, namedida em que o dotou de desconfiança, excitação, veemência e orgulhonuma proporção quase inconciliável com a mens aequa, mente serena dofilósofo. De meu pai herdei uma ansiedade que eu mesmo abomino eprocuro combater com todo o empenho de minha força de vontade.Ansiedade que por vezes, até nas ocasiões mais insignificantes, se apossa demim com tanta violência que enxergo nitidamente desgraças meramentepossíveis, apenas imagináveis. Uma terrível fantasia muitas vezespotencializa de modo inacreditável essa minha característica. Quando eutinha seis anos de idade, certa noite meus pais, ao retornarem de umpasseio, encontraram-me no mais completo desespero porque subitamenteimaginei ter sido abandonado por eles para sempre. Quando jovem, eraatormentado por doenças imaginárias e duelos. Durante meus anos deestudo em Berlim considerei-me inválido por um bom tempo. Na eclosãoda guerra de 1813 fui perseguido pelo medo de ser obrigado a prestarserviço militar. Fugi de Nápoles com pavor da varíola, e de Berlim porcausa da cólera. Em Verona fui tomado pela idéia fixa de ter cheirado rapéenvenenado. Quando, em julho de 1833, planejava deixar Mannheim, derepente e sem nenhum motivo aparente assaltou-me um inexprimívelpânico. Anos a fio fui perseguido pelo medo de um processo criminal porconta… do caso berlinense, da perda de meu patrimônio, e da contestaçãode minha herança por parte de minha mãe. Surgisse algum barulho no meioda noite, levantava da cama e pegava punhal e pistola, os quais semprecarregava comigo. Mesmo sem haver nenhum motivo especial, trazia emmim uma contínua e íntima preocupação, que me levava a ver e procurarperigos onde não havia. Isso amplia ao infinito a menor inquietação e medificulta por completo o relacionamento com os seres humanos.
29 A grande maioria das pessoas assemelha-se às castanhas-da-índia,aparentemente comestíveis como as demais, todavia intragáveis30. (NoKural de Tiruvalluver é dito: “O povo comum parece o ser humano; todavianunca vi nele algo parecido ao humano!”31) Muitos são um amálgama deperversidade e estupidez, difíceis de distinguir. A expressão inglesa a dullscoundrel, um canalha velhaco, é a que melhor os define. Goethe, bem emsintonia com o seu caráter, escreveu em meu caderno de recordações: Willst du dich deines Werthes freuen, So mußt der Welt du Werth verleihen. [Se queres regozijar-te com o teu valor, Então tens de ao mundo atribuir valor.32] Prefiro todavia pensar com Chamfort: Il vaut mieux laisser les hommes pour ce qu’ils sont, Que les prendre pour ce qu’ils ne sont pas. [É melhor deixar os homens serem o que são, A tomá-los pelo que não são.] Rien de si riche qu ‘un grand soi-même! [nada mais rico que um grandesi-mesmo!33] Quase todo contato com os seres humanos significacontamination, défilement [contaminação, degradação]. Os seres humanostêm uma tal índole que os mais sábios foram todos aqueles que no decursode suas vidas travaram com eles o menor contato possível. Goethe, todavia,segundo Eckermann, afirma justamente o contrário. É preciso estarmosplenamente imbuídos da convicção de que caímos num mundo povoado deseres moral e intelectualmente miseráveis, e que não fazemos parte deles; acompanhia deles, portanto, tem de ser evitada a todo custo. Devemos nosconsiderar e nos comportar como os brâmanes entre os sudras e párias.
Devemos estimar e honrar, de acordo com o seu valor, os poucos que fazemparte dos melhores. Quanto aos demais, nascemos para instruí-los, não paralhes fazer companhia. Temos de nos acostumar a considerá-los como umaespécie que nos é estranha, simples material de nosso labor. Devemosmeditar diariamente sobre a sua sofrível índole moral e intelectual, tendodiante dos olhos que não precisamos deles e que podemos ficar longe deles.Visto que o pior e o mais reles ser humano ainda é igual a nós em muitascaracterísticas, tanto físicas quanto morais, ele sempre tentará colocar taiscaracterísticas em primeiro plano, de forma que aquilo que nos tornamelhores seja tratado como algo secundário. Como levam em conta apenasforça e poder, convém evitá-los ou torná-los inofensivos. Devido à invejaprópria da natureza humana só resta aos obtusos e destituídos de espíritoalimentar uma animosidade secreta contra os que têm espírito superior,como fazem os perversos e reles contra as pessoas nobres e de caráter,embora às vezes colham vantagens e benesses destes objetos de sua raivasecreta, e inclusive temporariamente busquem as suas qualidades. Damesma forma, aqueles que em vão procuram a nobreza da disposição moralou um grau de clareza da inteligência que eles próprios possuem, têm porfim de começar a desprezar secretamente os perversos. O duplo isolamentode toda pessoa superior reside no fato de ela dissimular sua superioridadede bípede, caso a tenha notado tão instintivamente como um inseto que sefaz de morto; pois tal pessoa esconde essa superioridade de si mesma.................... 30. Cf. Parerga und paralipomena, vol. II, p. 87, observação: “Há cerca de vinte anos mandeifazer uma tabaqueira em cuja tampa foram reproduzidas, em algumas partes em mosaico, duas belascastanhas ao lado de uma folha que deixava reconhecer que eram castanhas-da-índia. Este símbolodeveria a todo momento recordar-me aquele pensamento [a saber: ‘o povo comum parece o serhumano; todavia nunca vi nele algo parecido ao humano’].” 31. Cf. Tiruvalluver, Der Kural. Ein gnomisches Gedicht über die drei Strebeziele desMenschen, trad. e org. de Karl Graul, Leipzig, Dörffling & Franke, 1856, p. 140. Schopenhauertambém cita a passagem em Parerga und paralipomena, vol. II, pp. 87, 359. 32. Goethe, Sprichwörtlich, in: Werke. Weimarer Ausgabe, Munique, Deutscher TaschenbuchVerlag, 1987, vol. 2, p. 230. 33. Schopenhauer prossegue na citação de Chamfort.
30 A diferença mais notável entre as pessoas de minha espécie e as outrasreside em grande parte no fato de as primeiras terem uma forte necessidade– que as outras não conhecem, e cuja satisfação lhes seria funesta – do óciolivre para pensar e estudar, ócio que muda até mesmo o parâmetro moralpara o julgamento de pessoas como eu; embora o moribundo Périclestivesse razão ao afirmar que mérito algum compensa uma consciênciaperversa. Acompanho os antigos e, com Sócrates e Aristóteles (DiógenesLaércio, II, 31; Aristóteles, Ética nicomaquéia, X, 7, 1177b 4), considero oócio como o bem maior. Se um homem como eu veio ao mundo,aparentemente só há uma coisa a desejar: que ele, tanto quanto possível,durante todo o tempo de sua vida, a cada dia e a cada hora, possa ser elemesmo e assim viver para o seu espírito. Mas é difícil cumprir essa exigência num mundo em que a sorte e adeterminação dos mortais são completamente diferentes, num mundo quenos coloca entre Cila e Caribde, ou seja, entre a pobreza que nos rouba todoócio livre, e a riqueza que tenta de toda forma corromper esse ócio e tirá-lode nós. A sorte humana é determinada pela natureza: trabalhar de dia,descansar à noite, pouco tempo livre. A felicidade do varão? Mulher e filho,que são o seu consolo na vida e na morte. Ali, porém, onde um caráterexcepcional produz uma gigantesca necessidade espiritual e com ela apossibilidade de grande fruição do espírito, o ócio livre é a condição capitalda felicidade, para a qual se renuncia voluntariamente até mesmo àfelicidade comum proporcionada por mulher e filho. O indivíduo dessaespécie pertence a uma outra esfera. Por outro lado, para a satisfação dessaexigência ímpar são exigidas circunstâncias exteriores, que todaviararamente entram em cena. Aqui um destino favorável tem de imperar, afim de preparar circunstâncias extraordinárias para uma naturezaextraordinária. É quando entra em cena o que Knebel reconheceu aosnoventa anos de idade: na vida da maioria dos homens encontra-se um certoplano que, por assim dizer, lhes é previamente sinalizado tanto pela própria
natureza como pelos acontecimentos que os envolvem. Mesmo que assituações de sua vida tenham sido múltiplas e variadas, ao fim revela-se defato um todo que se deixa observar numa certa coerência. Revela-se a mãode um destino determinado, por mais oculta que seja a sua atuação: mãoque pode ser movida ora por motivo externo, ora por estímulo interno; sim,com freqüência motivos contraditórios vêm em sua direção (K. L. Knebel,Literarischer Nachlaß [und Briefwechsel, org. por K. A. Vernhagen vonEnse e T. Mundt, Leipzig, Reichenbach, 1840], vol. III, p. 45234).................... 34. Cf. Parerga und paralipomena, vol. I, p. 218.
31 Pode-se comparar a sociedade comum com aquela música russa detrompas, na qual cada trompa tem apenas um tom e somente a sintoniaexata de todas é que faz soar a música. Ora, tão monótonos quantosemelhantes trompas uníssonas são os sentidos e os espíritos da grandemaioria das pessoas. Muitas, inclusive, parecem ter tido sempre apenas umúnico e mesmo pensamento, sendo incapazes de conceber alguma outracoisa35.................... 35. Passagem novamente usada em Parerga und paralipomena, vol. I, p. 451.
32 Penso com Thomas von Kempen (segundo Sêneca, Epistulae, 7):“quoties inter homines fui, minor homo redii” [todas as vezes que estiveentre homens retornei menos humano] (De imitatione Christi, livro I, XX,2). Por outro lado, Goethe diz que a conversa é ainda mais agradável que aluz36. Todavia, a meu ver, é melhor nada falar a ter de manter uma conversapobre e maçante, como é comum aos bípedes, dos quais três quartos falamcoisas que lhes ocorrem e não deveriam falar, e proferem besteiras como sefossem ponderações necessárias; de maneira que o diálogo com eles nãopassa de uma agonizante acrobacia numa tênue corda: a de dizer algo semse expor a riscos. Via de regra toda conversa – com exceção daquela com oamigo ou com a amada – deixa um sabor de fundo desagradável, umaperturbação na paz interior; ao contrário, toda ocupação com o próprioespírito deixa uma reverberação benéfica. Se converso com as pessoas,recebo opiniões que na maior parte das vezes são falsas, rasteiras ouenganosas, e expressas na pobre linguagem de seu espírito. Ao contrário, seconverso com a natureza, esta me oferece de modo verdadeiro e semdissimulação o ser inteiro de cada coisa sobre a qual fala, e isso de maneiraintuitiva e inesgotável, falando comigo a linguagem de meu espírito. Meuspensamentos e a comunicação deles sempre me ocupam vivazmente; comos bípedes, entretanto, não é a mesma coisa: seu pensamento livre elinguagem carecem de interesse verdadeiro, e sua participação neles nãopossui aquela vivacidade que invade e magnetiza. Eis por que semprededicam grande atenção ao ambiente próximo, num tal grau que quase nãoconsigo imaginar. Enquanto meu olhar se fixa num ponto, o deles ficavagueando e qualquer ruído perturbador lhes é bem-vindo. Assim, não háocasião em que eu considere os homens menos como meus semelhantes doque, por exemplo, quando os vejo tagarelar coisas sem sentido, o que paramim é como o latido dos cães ou o piar dos canários....................
36. Cf. Goethe, Das Märchen, in: Werke. Hamburger Ausgabe, vol. VI, p. 215: “Kaum hatte die Schlange dieses ehrwürdige Bildnis angeblickt, als der König zu reden anfingund fragte: – Wo kommst du her? – Aus den Klüften, versetzte die Schlange, in denen das Gold wohnt. – Was ist herrlicher als Gold?, fragte der König. – Das Licht, antwortete die Schlange. – Was ist erquicklicher als Licht?, fragte jener. – Das Gespräch, antwortete diese.” [Assim que a serpente mirou esse augusto retrato, o rei começou a falar e perguntou: – De onde vens? – Dos abismos, redargüiu a serpente, onde brilha o ouro. – O que é mais precioso que o ouro? – perguntou o rei. – A luz – respondeu a serpente. – O que é mais agradável que a luz? – perguntou aquele. – A conversa – respondeu esta.]
33 Já aos trinta anos de idade estava sinceramente cansado de considerarcomo meus iguais seres que de fato não o são. Quando o gato é filhote,brinca com bolinhas de papel porque as toma como seres vivos, como seressemelhantes a ele; mas, quando se torna adulto, nota o que são, e as deixade lado37. O mesmo se passou comigo em relação aos bípedes. Similis similigaudet [o igual se alegra com o igual]38. Para ser amado pelos homens, ter-seia de ser igual a eles. Mas que o diabo os carregue! O que os une emantém unidos é sua ordinariedade, miudeza, superficialidade, raquitismoespiritual e mesquinharia. Eis por que minha saudação a todos os bípedes é:pax vobiscum, nihil amplius! [a paz esteja convosco, é o suficiente!].Quando jovem, o homem de natureza nobre acredita que as relaçõesfundamentais e decisivas, e as ligações entre os seres humanos delasoriginadas, são ideais, baseando-se na semelhança da disposição moral, daforma de pensamento, do gosto, das faculdades do espírito; todavia, maistarde se convencerá intimamente de que tais relações são em verdade reais,isto é, calcadas em algum tipo de interesse material. Tais interessesencontram-se no fundamento de quase todas as ligações: inclusive a grandemaioria das pessoas não possui outra noção do que seja uma relação39.Portanto, quanto mais elevada a posição espiritual de alguém, tanto maisordinárias têm de lhe parecer as pessoas; tão certo quanto, se dos pés datorre até o seu cume há trezentos pés, deste até a base há de novo o mesmotanto.................... 37. A comparação é feita em Spicielga (1842), p. 289, in: Der handschriftliche Nachlaß, vol.IV/1, p. 289. 38. Cf. Agostinho, De spiritu et littera, 14, conforme o antigo ensinamento: simile similicognoscitur [o igual reconhece o igual]. O mesmo já é encontrado em Homero (Odisséia, XVII, 218)e em Empédocles (Fr. 109, Diels-Kranz), e repetido por Schopenhauer em outras passagens. 39. “O homem de natureza nobre… relação.” Cf. Parerga und paralipomena, vol. I, p. 488.
34 Die eisernen Reifen, mit denen mein Herz eingefaßt ist, treiben sich täglich fester an, sodaß endlich gar nichts mehr durchrinnen wird. So viel kann ich sagen: je größer die Welt, desto garstiger wird die Farce, und ich schwöre, keine Zote und Eselei der Hanswurstiaden ist so ekelhaft als das Wesen der Großen, Mittleren und Kleinen durcheinander. Ich habe die Götter gebeten, daß sie mir meinen Muth und Gradsinn erhalten wollen bis ans Ende und lieber das Ende mögen vorrücken, als mich den letzten Theil des Ziels lausig hinkriechen lassen. Ich bete die Götter an und fühle doch Muth genug, ihnen ewigen Haß zu schwören, wenn sie sich gegen uns betragen wollen wie die Menschen.” Goethe à Sra. Von Stein, 19.5.177840 [Os grilhões de ferro com os quais meu coração está envolto ficam a cada dia mais apertados, de tal modo que ao fim nada mais fluirá por ele. O que posso dizer é: quanto maior o mundo, tanto mais vil é a farsa. E juro que nenhuma vulgaridade ou asneira é mais repugnante, em toda essa fanfarrice, que a mistura da natureza dos grandes, médios e pequenos. Pedi aos deuses para conservarem meu ânimo e retidão até o momento final, e que antes antecipem meu fim a deixarem-me arrastar miseravelmente na última parte do percurso que leva ao meu fim. Rogo aos deuses. Todavia, tenho coragem suficiente para jurar-lhes ódio eterno, caso queiram comportar-se conosco como fazem os homens.] Quando ao olharmos pela primeira vez a fisionomia e os modos de umapessoa sentimos enorme repugnância, abstemo-nos de conhecê-la mais deperto, o que na maioria dos casos é puro ganho. Os homens são como separecem no primeiro momento: e não se pode dizer deles nada pior. Bastaconsiderar os rostos com os quais ainda não estamos acostumados, e
amiúde sentiremos vergonha de sermos humanos. É sempre desconcertantee perigoso se aparência e realidade se distanciam muito uma da outra. Porisso prefiro que o mundo apareça tão desolador aos meus olhos quanto defato é para minha razão.................... 40. Esta é mais ou menos uma citação de Goethe, a partir de Goethes Briefe an Frau von Stein:1776-1826, org. por Adolf Scholl, Weimar, Landes-Industrie-Comptoirs, 1848-1851, vol. I, p. 169.
35 Todos os exemplos surpreendentes e explícitos de ruindade, maldade,perfídia, ignomínia, inveja, estupidez e perversidade que experimentamos etivemos de suportar com paciência não devem de modo algum ser atiradosao vento, mas antes usados como alimenta misanthropiae [alimento damisantropia], e devem ser continuamente lembrados e mantidos em mente,para assim sempre termos diante dos olhos a índole real dos homens, e nãonos comprometermos de modo algum com eles. Assim, descobriremos quede fato até freqüentávamos há muitos anos aqueles com quem tivemosexperiências desse gênero, sem que os acreditássemos capazes disso. Eportanto foi só a ocasião que os pôs em evidência. Ora, quando começamosa nos familiarizar com uma pessoa, devemos sempre ter em mente que, casoa conhecêssemos mais intimamente, decerto a desprezaríamos ou teríamosde odiá-la.
36 Que me seja consentido esperar que a aurora da minha fama doure comseus primeiros raios a noite da minha vida, anulando assim o seu ladolúgubre41.................... 41. Schopenhauer escreve algo semelhante num esboço para o prefácio da terceira edição de Omundo como vontade e representação: “Si quis toto die currens pervenit ad vesperum satis est [Sealguém, correndo todo o dia, alcança a noite, pode dizer-se satisfeito]. Doravante, de fato, ocrepúsculo da minha vida torna-se a aurora da minha fama.” (Senilia, p. 84 do manuscrito original,1856).
37 Depois que se levou uma longa vida no anonimato e no desprezo, lávêm eles ao fim com timbales e trompetes, e acreditam que isso basta.
38 Sempre desejei uma boa morte, pois quem durante toda a vida foi só,decerto saberá enfrentar melhor que outro esse negócio solitário. Em vez deser tomado pelo berreiro próprio à limitada capacidade dos bípedes,expirarei na alegre consciência de ter cumprido a minha missão, e deretornar para lá, de onde emergi tão altamente agraciado.
MÁXIMAS E CITAÇÕES PREFERIDAS
1‘´Aπας μὲνἀὴηρ αίε περάσιμος,‘´Aπασα δὲ χθὼν ἀνδρὶγενναί πατρίς. Eurípedes, Fragmenta 1047; Stobeu 40,9[Todo o céu é da águia o caminho,Toda a terra é do homem nobre a pátria.]
2Οὐ τò ἡδὺ διώκει ϕρóνιμος ἀλλὰ τò ἂλυπον. Aristóteles, Ética nicomaquéia, VII, 11, 1152b, 15-16[O sábio aspira não ao prazer mas à ausência de dor.]
3Magnum vectigal parsimonia. Cícero, Paradoxa Stoicorum, I, 49; De republica, 4, 7[Parcimônia é uma grande fonte de renda.]
4 Nemo potest non beatissimus esse qui est totus aptus ex sese quique in se uno ponit omnia. Cícero, Paradoxa Stoicorum, II, 171 [É impossível não ser felicíssimo quem em tudo depende apenas de si e em si mesmo tudo apóia.]................... 1. Cf. Tusculanae disputationes, V, 36; Epistulae ad familiares, V, 13, I, 7.
5 Independence is a better cordial than tokay. Shenstone, Essays on Men and Manners, Londres, J. Cundee, 1802, p. 1952 [Independência é um fortificante melhor do que o tokay.]................... 2. Citação análoga. Ao pé da letra Shenstone escreve: Liberty is a more invigorating cordialthan tokay [Liberdade é um digestivo mais fortificante do que o tokay].
6Coetusque vulgares et udam Horácio, Carmina, III, 2, 23Spernit humum fugiente pinna.[‘A virtude’… olha com desprezoa agitação do povo, a bruma da terra.]
7Nulli te facias nimis sodalem,Gaudebis minus et minus dolebis. Martialis, Epigrammata, XII, 34, 10[Não te afeiçoes demasiado a alguém.Terás menos alegria e menos dor.]
8 Il n’y a pas de dette plus fidèlement acquitée que le mépris. Helvetius, De l’esprit, Paris, Durand, 1758, p. 863 [Dívida alguma é mais fielmente quitada que o desprezo.]................... 3. Grifada no exemplar de uso de Schopenhauer.
9 Provérbio espanholAsno sea quien a asno bozea.[Asno seja quem como asno relincha.]
10Give the world its due in bows. Schopenhauer[Dê ao mundo o que lhe é devido em reverências.]
11 There is nothing by which a man exasperates most people more,than by displaying a superior ability of brilliancy in conversation. Theyseem pleased at the time; but their envy makes them curse him at theirhearts. Samuel Johnson, Life of Samuel Johnson, Londres, Henry Washbourne, 1848, p. 490 [Nada exaspera mais a maior parte das pessoas do que alguém exibiro brilho de sua habilidade superior na conversação. Parece agradar-lhesnum primeiro momento, mas a inveja os faz maldizê-lo dentro de seuscorações.]
12 Goethe4 Der schlimmste Neidhart in dieser Welt – Der jeden für sinesgleichen hält. [O pior invejoso deste mundo – é aquele que a todos considera como seu igual.]................... 4. Goethe, Égalité, in: Werke. Hamburger Ausgabe, vol. I, p. 331.
13 Ti scongiuro, Nolano, per il divino tuo genio che ti difende et in cui ti fidi, che vogli guardarti di vili, ignobili, barbare et indegne conversazioni; a fin che non contraggi per sorte tal rabbia e tanta ritrosía, che divenghi forse come un satirico Momo tra li dei, e come un misantropo Timon tra gli uomini. Giordano Bruno, Cena delle Ceneri5 [Suplico-te, Nolano, pelo teu divino gênio que te defende, e no qual confias, que te guardes de conversas vis, ignóbeis, bárbaras e indignas, a fim de eventualmente não te acostumares a tal raiva e a tanta falta de sensibilidade, que te tornarão talvez um Momo satírico entre os deuses, e um Timon misantropo entre os homens.]................... 5. Citação reduzida de Giordano Bruno, Opere, vol. I, pp. 198-9. A passagem está grifada noexemplar de uso de Schopenhauer.
14The intellectual nature is its own law. Richard Price6[A natureza intelectual é sua própria lei.]................... 6. Livremente citado a partir de A Free Discussion of the Doctrine of Materialism, andPhilosophical Necessity, in a Correspondence between Doctor Price, and Doctor Priestley, Londres,J. Johnson and T. Cadell, 1778.
15 Sein Witz und Humor machte ihn zum angenehmen Gesellschafter, undobgleich sein edles Herz ihm überall Freunde hätte erwerben sollen, sofand er doch nur wenige. Da er sich durch seine Perspicacität immer zumbeständigen Urtheil über Menschen und Dinge hinreißen ließ, so wurden oftseine Entscheidungen hart und scharf; und wenn er einem Thoren, der vortausend Jahren gelebt hatte, das Facit machte, so war oft der Zuhörer, undwenn es auch tête-à-tête geschah, unschlüssig, ob es nicht eine Anspielungsei, die ihm gelte. J. H. Merck, Lindor7 [Seu jeito brincalhão e senso de humor tornavam-no uma companhiaagradável. Mas, embora seu nobre coração devesse lhe conquistar amigospor toda parte, encontrou bem poucos. Como sua perspicácia sempre olevava a emitir juízos consistentes sobre as pessoas e as coisas, suasopiniões amiúde eram duras e cortantes. E, quando fazia o balanço sobrealgum parvo que vivera há mil anos, muitas vezes o interlocutor, mesmoque se encontrasse tête-à-tête, tinha dúvida se não se tratava de uma alusãoa si.]................... 7. In: Johann Heinrich Merck, Ausgewählte Schriften zur schönen Literatur und Kunst, org. porAdolf Stahr, Oldenburg, Schulzesche Buchhandlung, 1840, p. 157.
16 An nichts tragen die Menschen schwerer, als an der Achtung,Verehrung, die sie für die guten Eigenschaften und Tugenden anderer fühlenoder fühlen müssen. Wer nicht will, daß ihm die Last vor die Füße geworfenwerde, oder den so Belasteten nach und nach von den Schultern falle, dermuß immer etwas zu dem Gewichte zu legen haben: er muß sie daruntererdrücken. Aber ich steh’ ihm nicht für die Folgen der Verzweiflung der soLeidenden. Klinger8 [Nada é mais difícil de suportar para os homens que o respeito e areverência que sentem ou têm de sentir em relação às boas qualidades evirtudes de outrem. Quem não quiser encolerizar-se com o fardo ou que elegradualmente lhe caia dos ombros, sempre tem de colocar algo sobre ele,para comprimi-lo. Todavia, não me responsabilizo pelas conseqüências eexasperação que dessa forma sofrem.]................... 8. Livremente citado a partir de Friedrich Maximilian Klinger, Der Weltmann und der Dichter,Leipzig, Hartknoch, 1798. Schopenhauer possuía um exemplar do livro, que entretanto se perdeu.
17 Wenn der Vorzug des Menschen sich darin erhärtet, daß er mehr einselbständiges und geschlossenes Wesen als jedes einer andern Gattungausmacht, so besteht gewiß der höhere Vorzug der Menschen untereinander,in je höherm Grade einer vor dem Andern dies in sich selbst vollendetegeschlossene und selbständige Wesen bildet. Ein Mensch also, der in seinenAnsichten, Handlungen, seiner Gestaltung und Produktivität oder in allenden Berührungspunkten seines Daseins mit den Wesen seiner Gattung sichgleichsam selbst umkreist, und von der Sphäre seinesgleichen durch seinabgerundetes Wesen so zu sagen in dem Grade abstreift, daß nur ein kleinerPunkt der Assimilation, eine Tangente zwischen ihm und derMenschengattung sich bildet – einen solchen Menschen kann manschlechthin zu den Vorzüglichsten und Größten zählen. Paul Ferdinand Friedrich Buchholz, Kabinet Berlinischer Karaktere, Berlim, Duncker & Humblot, 1808, p. 69 [Se a vantagem do ser humano se confirma no fato de ele – mais do quequalquer animal de outra espécie – ser independente e completo, entãodecerto a vantagem superior de uma pessoa reside no maior grau com queela desenvolve em si mesma essas características diante do outro. Umapessoa, portanto, que em suas visões e ações, em sua formação eprodutividade, ou em todos os pontos de contato de sua existência com osseres de sua espécie, de certa forma gravita em torno de si, e que, devido àsua natureza completa, distancia-se da esfera de seus semelhantes numgrau, por assim dizer, em que apenas um pequeno ponto de contato, umatangente entre ela e a espécie humana é formada – tal pessoa pode sertranqüilamente incluída entre as mais excelsas e magnânimas.]................... 9. Schopenhauer também menciona este escrito em Parerga und paralipomena, vol. I, p. 102.
Fontes 1. Grisebach n. I; Hübscher n. 4. Em torno de 1822. 2. Grisebach n. XXX; Hübscher n. 3. Em torno de 1822. 3. Grisebach n. III; Hübscher n. 5. Em torno de 1822. 4. Grisebach n. XI; Hübscher n. 6. Em torno de 1822. 5. Grisebach n. XXIX; Hübscher n. 7. Em torno de 1822. 6. Grisebach n. VI; Hübscher n. 1. Em torno de 1821-1822, provavelmente antes da segunda viagem à Itália, iniciada em 27 de maio de 1822. Cf. carta a Osann, de 20 de abril de 1822 (Schopenhauer, Gesammelte Briefe, p. 82). 7. Hübscher n. 2. Em torno de 1821-1822. 8. Grisebach n. X; Hübscher n. 8. Em torno de 1822-1823. 9. Grisebach n. IX; Hübscher n. 9. Em torno de 1823.10. Grisebach p. 148; Hübscher n. 10.11. Grisebach n. IV; Hübscher n. 11.12. Grisebach n. V; Hübscher n. 12. Depois de 1825.13. Grisebach n. XIX; Hübscher n. 13. Em torno de 1826.14. Hübscher n. 14. Em torno de 1828.15. Grisebach n. XVIII; Hübscher n. 15. Depois de 1829.16. Hübscher n. 16. Depois de 1829.17. Grisebach ns. XX-XXI; Hübscher n. 17. Depois de 1829.18. Grisebach n. VII; Hübscher n. 18. Depois de 1831.19. Grisebach n. XXVII; Hübscher n. 19. Depois de 1830.20. Grisebach ns. XV-XVI; Hübscher n. 20.21. Grisebach pp. 147-8; Hübscher n. 21.22. Grisebach n. XXVIII; Hübscher n. 22. Em torno de 1831.23. Hübscher n. 23.24. Grisebach p. 147, nota 66; Hübscher n. 24. Em torno de 1831.25. Grisebach n. XII; Hübscher n. 25. Em torno de 1831.26. Grisebach n. XIII; Hübscher n. 26. Em torno de 1831.27. Grisebach n. XIV; Hübscher n. 27.
28. Grisebach pp. 164-5; Hübscher n. 28. Em torno de 1833.29. Grisebach ns. XXIV-XXV; Hübscher n. 29. Depois de 1836.30. Grisebach n. II; Hübscher n. 30. Depois de 1840.31. Hübscher n. 31. Depois de 1840.32. Grisebach n. VIII; Hübscher n. 32. Depois de 1840.33. Grisebach ns. XXIII e XXII; Hübscher n. 33. Em torno de 1844.34. Grisebach p. 149 e n. XXVI; Hübscher n. 34. Depois de 1850.35. Grisebach n. XVII; Hübscher n. 35. Em torno de 1852.36. Grisebach p. 168, nota; Hübscher n. 36. Em torno de 1855.37. Grisebach n. XXXI; Hübscher n. 37.38. Grisebach p. 162, nota; Hübscher n. 38.